domingo, novembro 30, 2008

Cubo de gelo

Estamos confinados a duas salas aquecidas pelo fogo, só os corajosos atravessam a barreira da segurança. Ir à casa-de-banho é praticamente uma missão impossível, por isso aguentamos sempre ao máximo para não termos que sofrer tantas vezes. Caso estejamos a ficar entediados, vamos lá fora para sentir o nariz e as mãos a gelar e "fazer fuminho".
É demasiado delicioso para nos sentirmos desconfortáveis, apesar de reclamarmos a toda a hora. O convívio com a família numerosa, o ver a madeira a arder violentamente, ver a chuva a cair, brincar com a neve...nada pode ser estragado pelo enorme frio que se faz sentir.

terça-feira, setembro 23, 2008

Não percebo porque é que as pessoas se dão ao trabalho de gostarem de mim. Já toda a gente devia que eu acabo sempre por fazer qualquer coisa estúpida e egoísta que as vai magoar.
Está provado que assim é. Parece que quanto mais as pessoas gostam de mim, mais coisas faço para as magoar. Talvez não me sinta digna de tanto amor, ou talvez não queira ficar dependente dele ou que as pessoas fiquem dependente dele, por isso reprimo-o. Primeiro aproveito-o, deixo que ele cresça e depois estrago-o. Não consigo explicar.
Ainda não consegui descobrir que espécie de monstro sou, mas devia ter um rótulo na testa a dizer "Perigoso! Não aproximar!"
Neste momente sinto-me sozinha, parece que já afastei quase todas as pessoas que gostavam de mim e me fazem realmente falta.

sexta-feira, julho 18, 2008

Há momentos que não podem ser substituídos, lembranças que só com o tempo podem desaparecer.
Esta semana de descanso, longe da confusão rotineira, teve muitos momentos novos que ajudaram na reconstrução da minha pessoa.
Lembrou-me principalmente que a praia sob uma lua cheia pode ser perfeita na companhia de amigos.

quarta-feira, julho 09, 2008

Como é que fazemos com que o nosso coração deixe de bater tão depressa?
Como é que conseguimos evitar os sobressaltos repentinos, as emoções reprimidas?
Quem nos cura por dentro quando o tempo nada faz, para além de aprofundar a ferida que já se transforma num buraco negro?
Quando é que é suficiente?

domingo, junho 29, 2008

Vou dizer a verdade, continuo magoada. Não sei bem se é mágoa, se uma profunda tristeza ou decepção, provavelmente uma mistura de todos. É uma coisa que não me larga, quando ando é a minha sombra, se corro ela persegue-me e se fico simplesmente quieta ela fica a meu lado, quase como se me estivesse a abraçar.
Preciso de mais, ainda mais do que fantásticas noites com amigas em que me sinto totalmente livre. Preciso de sentir que tudo à minha volta é normal, que está tudo bem e que o constrangimento já não existe. Acredito que assim seria mais fácil e talvez conseguisse perceber de uma vez por todas que eu segui realmente com a minha vida para a frente. Mas não depende só de mim...
Pergunto-me até quando isto vai durar, se este vazio cá dentro algum dia vai desaparecer.

quinta-feira, maio 15, 2008

Tomo banho com a minha visão cega, tentando lavar-me de mais um dia. Lavo o cabelo, a espuma escorre-me para os olhos e sinto-os a arder, mas não os posso esfregar pois sinto as mãos também com espuma, por isso recuo dois passos para encontrar a água que cai forte.
Estou reduzida a isto, a sensações na minha já desconhecida pele, porque a visão me foi roubada. Apenas sinto quando alguém me tira algo da mão e deixa ficar a sua mão na minha por meros segundos, sem conseguir ver o que isso significa.
Estou às escuras, tudo o que eu vejo é preto, sombrio, sem sinal de um raio de luz iminente. Perdi o caminho que tinha desenhado para mim, perdi a beleza de um pôr-do-sol e dos relâmpagos a rasgarem o céu escuro, perdi o meu equilíbrio, perdi a capacidade de ver as pessoas que precisam de mim. Agora as pessoas precisam de falar comigo, explicar tudo o que está à minha volta para que eu consiga perceber onde estou. Precisamos realmente de usar as palavras, acabaram-se aqueles momentos profundos em que uma troca de olhares ou um gesto bastava.
Desejava que não tivessem levado a minha visão, pelo menos assim teria cores vivas e figuras bonitas e quando acordasse de um pesadelo e abrisse os olhos saberia que tinha acabado. Tudo o que tenho são as recordações, memórias do que eu em tempos vivi. E são elas que mais me magoam, que me prendem àquilo que eu um dia tive e que me dão esta ridícula esperança de um dia conseguir abrir os olhos e ser feliz.
Mas que outra coisa me podiam ter tirado sem que eu sentisse falta logo a seguir? O olfacto não, assim deixaria de poder ligar os cheiros às pessoas, sítios e memórias; nem a audição, pois não poderia ouvir risos ou músicas que tanto despertam em mim. Muito menos o tacto, mas de que me serve sentir uma carícia se não consigo ver o rosto de quem a faz para saber se é de troça, nojo, compaixão ou amor profundo? Podiam-me tirar o paladar, já que tudo me sabe igual. Melhor ainda, que me tirassem os sentimentos, pois esses eu poderia inventar de maneira bem mais fácil e promissora.
Estou perdida num mundo que agora desconheço e preciso da minha visão para me encontrar.

sábado, maio 10, 2008

Acordar

Aproveito uma noite de extremo cansaço para tentar voltar a dar vida a este meu pequeno refúgio.
Não consigo dizer o que me aconteceu nestes últimos meses, apenas que houve uma avalanche na minha vida que eu ainda não consegui travar por completo. Estou perdida, perdida num mundo que não é o meu.
As palavras tornaram-se difíceis, difíceis de dizer e de escrever. Li os meus antigos texto, da época em que eu conseguia transparecer tudo aquilo que sentia sem medo. É isso que eu quero neste momento: transparência e claridade, força e coragem para conseguir sair desta penumbra que insiste em esconder-me. Quero reencontrar aquela esperança, aquela felicidade.
Agora só preciso de ver o teu sorriso... Está na hora de acordar.

sábado, abril 12, 2008

Shiiiiiiuuuuu.
Os gritos começam. Como se pode uma pessoa manter sã neste ambiente? O motivo é o mesmo de sempre.
Os adultos transformam-se, tornam-se infantis, perdem a razão no meio de todas aquelas vozes alteradas. Vemos os que são suposto darem-nos o exemplo danificados, reduzidos a algo que nunca imaginámos possível.
Eles não sabem que estou aqui. Como se poderiam comportar assim à frente de uma criança? Provavelmente acham que não os estou a ouvir, que a música depressiva que tenho no computador me afasta da discussão.
Tento não ligar, tapar os ouvidos com força, tento não me manifestar. É tão difícil...

terça-feira, abril 08, 2008

Um texto de Dezembro, perdido...

Acabou de começar um programa na televisão, qualquer coisa portuguesa. No canto superior direito está uma espécie de donuts vermelho: maiores de dezasseis. A primeira imagem que aparece é a ponte Vasco da Gama, dando a sensação de estarmos a andar nela. De repente vem-me à cabeça a recordação de uma viagem fantástica. Estava a voltar de uma semana de sol no Algarve, algo novo. Está uma noite perfeita. O cabelo solto, o rosto corado, o meu lindo top com borboletas e um colar novo. Estou feliz! Mal eu sabia...
Na televisão continuam a passar imagens de paisagens. Não sei do que se trata, os phones nos ouvidos não me deixam ouvir o que quer que seja. O sol está a pôr-se. Vamos tão ligeiros, tão leves, a passar por toda aquela beleza alentejana. Os relvados, as oliveiras, os montes, o laranja do céu. Não, esta música não, por favor. Como se já não fosse suficientemente mau... Por momentos desaparece tudo da minha mente, perco o meu olhar no infinito. Acabou.
Na televisão agora passam fotografias a preto e branco de homens, continua sem existir uma história. Sinto-me a voar. Sou um pequeno pássaro a voar lá fora, no ar quente da noite, a deixar-me levar por uma brisa suave. O céu agora está preto, as estrelas vêem-se na perfeição. Vejo as constelações, todas aquelas constelações que têm um significado imenso para mim. Não me lembro de havia lua ou não...
Estas são as recordações que permito virem ao de cima, sempre que as consigo controlar.
Definitivamente, o programa televisivo não tem qualquer sentido. Continuo a voar. Agora estou junto ao rio. Lá em baixo vejo uma ponte enorme, cheia de pequenas luzes amarelas e vermelhas em movimento. À frente vejo a capital, milhares e milhares de minúsculas luzes e um ruído característico. Foi uma novidade ver as coisas daquela maneira, tão pitoresca. Apaixonei-me, de certa forma. Aproveito bem estes últimos momentos de liberdade total, porque em breve vou chegar ao meu ninho.

segunda-feira, março 31, 2008

Recordações (para não ter)

Nos últimos dias tenho sido assombrada por mil e uma recordações. Eu sou uma pessoa que associa muito facilmente episódios do dia-a-dia a acontecimentos do passado, mas agora estou a ser bombardeada a todos os momentos com certas recordações. As recordações de uma viagem que significou o fim de muita coisa e o início de tantas outras coisas.
Sempre fui uma pessoa que se agarra muito às recordações, quer tenham um mês, um ano ou mais, talvez por a minha nunca parar de pensar ou talvez por dar demasiada importância ao passado.
Só agora é que consigo ver o quanto foi importante a viagem, o quanto vivi, o quanto aprendi, o quanto mudei. Podia descrever aqui toda a viagem, todos os momentos, todos os pormenores (oh, tantos pormenores), porque esta minha memória dá para tudo, mas se o fizer parte da magia perde-se, porque por mais que já se tenha falado, só quem lá esteve é que seja o quão especial foi.
E como alguém diz, "só se tem uma vez na vida". Por isso, não vale a pena juntar as pessoas para se tentar reviver o que já foi e não volta, porque no final só vai ficar a desilusão. E não vale a pena recordar demasiado, porque isso só vai fazer crescer em nós um espaço vazio, a saudade.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Eu tenho um refúgio, algo tão material como espiritual, que utilizo para fugir.
Pode-se comparar a uma embalagem que se compra no supermercado. Muitas vezes sou eu que a compro, outras vezes são outros que me trazem. A pequena embalagem tem uma espécie de duas divisões, uma totalmente uniforme, outra cheia de texturas e cores.
Misturo tudo num só, pouco a pouco. As cores vão-se expandindo e, cada vez que lhe toco, forma-se um padrão diferente. Vou tirando bocadinhos, tentando não estragar demasiado, tentando manter o máximo de cor, o máximo de ilusão.
Este tem sido o meu vício nestas últimas semanas. Fico sentada no sofá a devorar a beleza que eu criei, a esborratar as cores que me fazem sorrir, a acabar com a única coisa que é doce, a destruir toda a magia. E fico ali absorvida até chegar ao fim.
Mas a seguir a este vem outro. Outra embalagem à minha frente, à espera. Este é o meu vício, uma ou duas vezes por dia, e, tal como todos os vícios, vai acabar por me fazer mal.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Nada mudou

Estive nos últimos meses numa adptação constante às mudanças que aconteciam à minha volta, que aconteciam na minha vida, que aconteciam em mim. Sempre pintei o caminho que tive que percorrer para chegar aqui hoje de cinzento, como uma dor tão profunda que me reduzia a nada. Porém, ontem foi como se tivesse visto uma luz, tudo me pareceu menos confuso e feio. A dor sentida e as feridas feitas não desapareceram, são coisas que não é possível apagar, mas é como se tivesse ganho um novo ânimo. Um ânimo algo triste, é certo, mas sinto-me menos frágil.
Já senti algo do género antes, nos intervalos das minhas depressões e pensamentos miseráveis, mas desta vez é diferente, tenho esperança de que vai ser diferente.
Estou maior, mais crescida. É isso que a dor provoca em nós, o crescimento. Tenho uma camada de pele mais espessa, sou menos ingénua, aquele medo inexplicável do nada quase já não existe, sou menos ajuízada mas continuo a ser conscienciosa. Estou tão diferente, houve alturas em que quase não me reconheci, mas a minha essência continua cá.
Tudo à minha volta mudou, tenho uma vida quase nova. Mas continua tudo na mesma. As discussões, o ambiente pesado, os planos falhados, o sentimento de faltar sempre alguma coisa. Percorri um caminho tão longo, perdi-me tantas vezes, mas vendo bem é como se tivesse dado apenas um mísero passo. Falta-me é descobrir se realmente avançei ou se recuei.