domingo, maio 17, 2009

Ontem estive a escolher gravatas e a combiná-las com camisas. Um momento completamente diferente, sem gritos ou confusões. Consegui perceber o que sinto, perceber que afinal não sou assim tão má pessoa.
Mas dói-me quando eu tenho coragem e paro um bocadinho para olhar para ele. Vejo uma pessoa triste, velha, cansada da vida e do mundo. Vejo alguém que, se pudesse, preferia estar fechado num casulo. Dói saber que não consigo ser melhor, saber que não consigo evitar o sorriso forçado ou os gritos depois da primeira repetição. Dói ver que está cada vez mais próximo, porque a cabeça está pior e o corpo já quase não existe.E o que mais me dói é saber que me vai doer muito mais quando acabar.

O Futuro

Setembro, 2008:

Terrível! Nesta altura vejo a minha vida a correr mais depressa do que nunca! Os dias não passam a correr, mas, quando vejo, já passou mais tempo do que eu achava.
Já passou um ano, um ano! No entanto, olho para trás e ainda me parece tudo tão recente...
Tenho tanto medo! Há pouco menos de um ano este sentimento não existia dentro de mim, sentia que podia fazer tudo o que quisesse sem me fazer mal. Estaria demasiado maltratada?
Hoje sinto que não vou ter tempo, não sei bem para quê, mas sinto-me com falta de tempo. E depois tudo o que me vem à cabeça são coisas más que podem acontecer e que me podem destruir a vida, que me podem deitar completamente abaixo. Isto faz-me ter ainda mais medo do futuro, futuro esse que está cada vez mais perto!
O que é que eu posso fazer? Vou ser louca, vou viver a vida como tudo, vou ser diferente. Será que vou conseguir?


Maio, 2009:

A minha vida está realmente diferente, quase como a vida de uma pessoa normal. Acho que isto aconteceu porque me deixei de preocupar, deixei de estar sempre a imaginar aquilo que queria e comecei a viver.
Há um ano trás escrevi uma música muito melancólica. Acho que foi a partir desse momento, quando vi que estava mesmo mal, que comecei a ser mais despreocupada, muito mais descontraída.
Hoje estou aqui, feliz, sem tempo nem vontade de ocupar a minha cabeça com o futuro.

domingo, novembro 30, 2008

Cubo de gelo

Estamos confinados a duas salas aquecidas pelo fogo, só os corajosos atravessam a barreira da segurança. Ir à casa-de-banho é praticamente uma missão impossível, por isso aguentamos sempre ao máximo para não termos que sofrer tantas vezes. Caso estejamos a ficar entediados, vamos lá fora para sentir o nariz e as mãos a gelar e "fazer fuminho".
É demasiado delicioso para nos sentirmos desconfortáveis, apesar de reclamarmos a toda a hora. O convívio com a família numerosa, o ver a madeira a arder violentamente, ver a chuva a cair, brincar com a neve...nada pode ser estragado pelo enorme frio que se faz sentir.

terça-feira, setembro 23, 2008

Não percebo porque é que as pessoas se dão ao trabalho de gostarem de mim. Já toda a gente devia que eu acabo sempre por fazer qualquer coisa estúpida e egoísta que as vai magoar.
Está provado que assim é. Parece que quanto mais as pessoas gostam de mim, mais coisas faço para as magoar. Talvez não me sinta digna de tanto amor, ou talvez não queira ficar dependente dele ou que as pessoas fiquem dependente dele, por isso reprimo-o. Primeiro aproveito-o, deixo que ele cresça e depois estrago-o. Não consigo explicar.
Ainda não consegui descobrir que espécie de monstro sou, mas devia ter um rótulo na testa a dizer "Perigoso! Não aproximar!"
Neste momente sinto-me sozinha, parece que já afastei quase todas as pessoas que gostavam de mim e me fazem realmente falta.

sexta-feira, julho 18, 2008

Há momentos que não podem ser substituídos, lembranças que só com o tempo podem desaparecer.
Esta semana de descanso, longe da confusão rotineira, teve muitos momentos novos que ajudaram na reconstrução da minha pessoa.
Lembrou-me principalmente que a praia sob uma lua cheia pode ser perfeita na companhia de amigos.

quarta-feira, julho 09, 2008

Como é que fazemos com que o nosso coração deixe de bater tão depressa?
Como é que conseguimos evitar os sobressaltos repentinos, as emoções reprimidas?
Quem nos cura por dentro quando o tempo nada faz, para além de aprofundar a ferida que já se transforma num buraco negro?
Quando é que é suficiente?

domingo, junho 29, 2008

Vou dizer a verdade, continuo magoada. Não sei bem se é mágoa, se uma profunda tristeza ou decepção, provavelmente uma mistura de todos. É uma coisa que não me larga, quando ando é a minha sombra, se corro ela persegue-me e se fico simplesmente quieta ela fica a meu lado, quase como se me estivesse a abraçar.
Preciso de mais, ainda mais do que fantásticas noites com amigas em que me sinto totalmente livre. Preciso de sentir que tudo à minha volta é normal, que está tudo bem e que o constrangimento já não existe. Acredito que assim seria mais fácil e talvez conseguisse perceber de uma vez por todas que eu segui realmente com a minha vida para a frente. Mas não depende só de mim...
Pergunto-me até quando isto vai durar, se este vazio cá dentro algum dia vai desaparecer.

quinta-feira, maio 15, 2008

Tomo banho com a minha visão cega, tentando lavar-me de mais um dia. Lavo o cabelo, a espuma escorre-me para os olhos e sinto-os a arder, mas não os posso esfregar pois sinto as mãos também com espuma, por isso recuo dois passos para encontrar a água que cai forte.
Estou reduzida a isto, a sensações na minha já desconhecida pele, porque a visão me foi roubada. Apenas sinto quando alguém me tira algo da mão e deixa ficar a sua mão na minha por meros segundos, sem conseguir ver o que isso significa.
Estou às escuras, tudo o que eu vejo é preto, sombrio, sem sinal de um raio de luz iminente. Perdi o caminho que tinha desenhado para mim, perdi a beleza de um pôr-do-sol e dos relâmpagos a rasgarem o céu escuro, perdi o meu equilíbrio, perdi a capacidade de ver as pessoas que precisam de mim. Agora as pessoas precisam de falar comigo, explicar tudo o que está à minha volta para que eu consiga perceber onde estou. Precisamos realmente de usar as palavras, acabaram-se aqueles momentos profundos em que uma troca de olhares ou um gesto bastava.
Desejava que não tivessem levado a minha visão, pelo menos assim teria cores vivas e figuras bonitas e quando acordasse de um pesadelo e abrisse os olhos saberia que tinha acabado. Tudo o que tenho são as recordações, memórias do que eu em tempos vivi. E são elas que mais me magoam, que me prendem àquilo que eu um dia tive e que me dão esta ridícula esperança de um dia conseguir abrir os olhos e ser feliz.
Mas que outra coisa me podiam ter tirado sem que eu sentisse falta logo a seguir? O olfacto não, assim deixaria de poder ligar os cheiros às pessoas, sítios e memórias; nem a audição, pois não poderia ouvir risos ou músicas que tanto despertam em mim. Muito menos o tacto, mas de que me serve sentir uma carícia se não consigo ver o rosto de quem a faz para saber se é de troça, nojo, compaixão ou amor profundo? Podiam-me tirar o paladar, já que tudo me sabe igual. Melhor ainda, que me tirassem os sentimentos, pois esses eu poderia inventar de maneira bem mais fácil e promissora.
Estou perdida num mundo que agora desconheço e preciso da minha visão para me encontrar.