sábado, abril 12, 2008

Shiiiiiiuuuuu.
Os gritos começam. Como se pode uma pessoa manter sã neste ambiente? O motivo é o mesmo de sempre.
Os adultos transformam-se, tornam-se infantis, perdem a razão no meio de todas aquelas vozes alteradas. Vemos os que são suposto darem-nos o exemplo danificados, reduzidos a algo que nunca imaginámos possível.
Eles não sabem que estou aqui. Como se poderiam comportar assim à frente de uma criança? Provavelmente acham que não os estou a ouvir, que a música depressiva que tenho no computador me afasta da discussão.
Tento não ligar, tapar os ouvidos com força, tento não me manifestar. É tão difícil...

terça-feira, abril 08, 2008

Um texto de Dezembro, perdido...

Acabou de começar um programa na televisão, qualquer coisa portuguesa. No canto superior direito está uma espécie de donuts vermelho: maiores de dezasseis. A primeira imagem que aparece é a ponte Vasco da Gama, dando a sensação de estarmos a andar nela. De repente vem-me à cabeça a recordação de uma viagem fantástica. Estava a voltar de uma semana de sol no Algarve, algo novo. Está uma noite perfeita. O cabelo solto, o rosto corado, o meu lindo top com borboletas e um colar novo. Estou feliz! Mal eu sabia...
Na televisão continuam a passar imagens de paisagens. Não sei do que se trata, os phones nos ouvidos não me deixam ouvir o que quer que seja. O sol está a pôr-se. Vamos tão ligeiros, tão leves, a passar por toda aquela beleza alentejana. Os relvados, as oliveiras, os montes, o laranja do céu. Não, esta música não, por favor. Como se já não fosse suficientemente mau... Por momentos desaparece tudo da minha mente, perco o meu olhar no infinito. Acabou.
Na televisão agora passam fotografias a preto e branco de homens, continua sem existir uma história. Sinto-me a voar. Sou um pequeno pássaro a voar lá fora, no ar quente da noite, a deixar-me levar por uma brisa suave. O céu agora está preto, as estrelas vêem-se na perfeição. Vejo as constelações, todas aquelas constelações que têm um significado imenso para mim. Não me lembro de havia lua ou não...
Estas são as recordações que permito virem ao de cima, sempre que as consigo controlar.
Definitivamente, o programa televisivo não tem qualquer sentido. Continuo a voar. Agora estou junto ao rio. Lá em baixo vejo uma ponte enorme, cheia de pequenas luzes amarelas e vermelhas em movimento. À frente vejo a capital, milhares e milhares de minúsculas luzes e um ruído característico. Foi uma novidade ver as coisas daquela maneira, tão pitoresca. Apaixonei-me, de certa forma. Aproveito bem estes últimos momentos de liberdade total, porque em breve vou chegar ao meu ninho.