quinta-feira, dezembro 13, 2007

Sinto-me...

Encorralada. Não tenho para onde ir. Tenho pessoas ao meu lado que não me dão espaço, sinto as paredes da sala a ficarem cada vez mais perto, a apertarem-me.

Sofucada. Estou com um ataque de claustrofobia, não consigo respirar. Todas estas pessoas estão a respirar o meu ar, não aguento.

Distante. Sou um extraterrestre, este não é o meu mundo. Já não me sentia tão estranha há tanto tempo...

Irritada. Estão a utilizar as minhas coisas como se fossem delas, falam comigo sobre coisas insignificantes, têm o cheiro de todos os dias. Não consigo ignorar, tenho os nervos à flor da pele, não me toquem.

Pressionada. Olham para o que eu estou a fazer, parece que me estão a avaliar, têm que provar que são melhores do que eu.

Distraída. Não me importa o que se passa à minha volta. Não consigo controlar o que sinto, por isso viajo para longe, penso em coisas estúpidas, sussuro uma música, deixo de pensar.

Só. É apenas assim que consigo estar. Já arranjei forças e motivos para continuar, mas o convívio com os outros tornou-se mais difícil. Sozinha consigo ser tudo o que quero, parece que só assim é que estou bem. Só.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Perdemo-nos

Perdemo-nos.
Todos nós que eramos felizes já não existimos dessa maneira. Para onde foi o entusiasmo, a vontade, a ingenuidade, a alegria?
Nós, que nos tínhamos uns aos outros, já não existimos. Agora cada um tem os seus problemas, todos temos mais problemas e não temos tempo para sermos nós. Não vivemos para os outros nem com os outros, não vivemos para nós próprios, limitamo-nos a viver. Andamos com uma máscara, sempre com um sorriso estampado na cara, porque temos que ser felizes, é essa a nossa obrigação e não podemos mostrar ao mundo o quanto estamos desiludidos, perdidos, cansados de não sermos nós.
Nós já não somos, perdemo-nos. Estamos todos mal, cada um pior do que o outro. Como é que se pode viver quando não conseguimos controlar o que sentimos, quando não sabemos o que queremos, quando o mundo que conhecíamos acaba? Fantasmas, é tudo o que nós somos neste momento.

Noite de 30 de Novembro

Estou na Serra. Consegui finalmente libertar-me das minhas obrigações e fugi para longe dos meus fantasmas.
O ar gelado que respiro faz-me esquecer tudo, tudo o que (não) tenho, tudo o que se passou, tudo o que sou. Sinto-me mais viva do que nunca, apesar de haver cada vez menos vida em mim.
O carro vai subindo a serra por uma estrada sem rectas. Estou cada vez mais alto, sinto-me quase como se estivesse a voar. Daqui consigo ver vales sombrios, encostas inclinadas e casas iluminadas. Subo cada vez mais e vejo que as luzes amarelas das pequenas aldeias lá em baixo formam uma espécie de várias cobras que se cruzam entre si. Delicio-me com toda esta beleza e espanto-me ao ver a lua a nascer por entre duas montanhas, amarela e grande, em forma de gomo de laranja.
Consigo ver pelo espelho o sorriso parvo com que estou, mas apenas sinto um vazio cá dentro. Sinto um nó na garganta, só me apetece chorar, mas não tenho razões para isso pois as recordações ficaram para trás e os sentimentos foram esquecidos por obrigação.
No meio de tudo isto, acho que sinto uma certa vontade para continuar, mas sinto-me sem forças.