sexta-feira, novembro 16, 2007

Alguém especial

Hoje de manhã no metro vi uma rapariga que me chamou a atenção de uma maneira especial. Então, pus de lado o jornal e fiquei a observá-la, talvez porque sentia em mim um estranho desejo de a querer conhecer.
A minha primeira impressão foi de que ela era apenas mais uma universitária sonolenta. Ela estava em pé, encostada a um canto da carruagem, abraçada aos seus cadernos e com uns phones nos ouvidos. Quando entrou no metro, tinha o nariz ligeiramente vermelho e o casaco fechado até cima, para proteger o pescoço, reflexo do frio que já se faz sentir.
Via-se pelas grandes olheiras presentes debaixo dos seus olhos e pela sua postura que estava cansada, talvez devido ao trabalho na faculdade. Mas os olhos dela diziam que havia algo mais. Tinha os olhos brilhantes, mas ao mesmo tempo estavam tristes e espelhavam alguma decepção. Se calhar por problemas familiares ou talvez um desgosto amoroso. Pela maneira bastante pausada e hesitante como escrevia uma mensagem e pela forma espectante como segurava o telemóvel e como depois o guardou quando não recebeu uma resposta, apostava mais na segunda hipótese.
Foi todo o caminho absorvida totalmente nos seus pensamentos, abstraída de todas as pessoas que entravam e saíam das carruagens. De vez em quando fechava os olhos, como se se quisesse deixar ir, mas apenas durante breves segundos. Contudo, houve uma vez, depois de olhar para o visor do ipod, em que me pareceu ver uma sombra de um sorriso imediatamente antes de ela fechar os olhos, deste vez durante um longo momento, e depois de os voltar a abrir a custo vi uma lágrima a percorrer-lhe a cara, mas ela foi tão rápida a escondê-la que só eu devo ter reparado nela. Gostava de ter estado dentro da cabeça dela durante o tempo em que ela esteve de olhos fechados, gostava de lhe ter lido todos os pensamentos que a fizeram derramar aquela lágrima, gostava de saber o porquê daquela música ser tão especial para a ter feito vir abaixo.
Ela saiu na mesma estação que eu. Foi andando apressada, um novo dia já tinha começado. Não lhe consegui ver um sorriso, mas tenho a certeza que ela é especial e que não tem a noção disso.

terça-feira, novembro 13, 2007

Volto para casa depois de um dia bom, um dia de riso constante. O ar está fresco, o nariz está frio, mas não demasiado, tal como eu gosto. Estou com uma boa companhia, recentemente descoberta, e o riso continua.
No céu negro consigo ver a perfeição da lua, o seu ténue sorriso, por entre os prédios e as gruas. Passeio-me pelo jardim, só me apetece ficar aqui para sempre. A minha companhia vai-se embora, mas eu fico bem comigo mesma. Sinto um conforto imenso.
Deito-me na relva húmida, com a cabeça na minha mala do tamanho do mundo. Começo a ficar molhada, mas não me importo, nada me importa, porque os arrepios sucessivos fazem-me sentir viva. Hoje não tenho lágrimas, só sorrisos. Ouço música, canto baixinho para mim, abstraio-me das pessoas que continuam a passar apressadas.
Não penso, o segredo é não pensar, vivo a paisagem e a música, sou feliz.

sábado, novembro 10, 2007

Onde estás?

Onde estás?
Levantei-me a pensar em ti. Pus o meu melhor vestido, escovei e entransei o cabelo enquanto cantarolava músicas que me fazem lembrar de ti. Perfumei-me com o perfume que me ofereceste, mas só consigo sentir o cheiro que um dia deixaste em mim.

Onde estás?
Estou sentada, desde manhã, na cadeira da entrada à espera que me venhas buscar. As pessoas passam por mim, não parecem preocupadas, perguntam se eu quero comer mas eu recuso porque estou à tua espera. Não me levanto durante um segundo sequer com medo que tu chegues e não seja eu a receber-te, com medo de perder mais um momento a teu lado.

Onde estás?
O sol já se pôs há muito tempo. O meu sorriso foi-se esvaíndo aos poucos, agora só me apetece chorar. Onde estás tu com o teu sorriso lindo e uma simples flôr para me oferecer? Onde estás tu para me fazer feliz? Se calhar perdeste-te, talvez não te lembres de onde moro...

Onde estás?
Já não vens, pois não? Talvez nunca tenhas querido vir. Nem te lembraste... Porquê?
A cada segundo que passa eu morro mais um bocadinho. Choro agora deitada no chão gelado, o mais encolhida possível, tão pequena... Mas continuo na entrada, com uma ínfima esperança de que ainda me venhas salvar deste desespero.